A resistência global contra um futuro sem dinheiro em espécie
Traduzido por Clara Costa -
Se você vive em certas partes do mundo, pode parecer que uma sociedade sem dinheiro em espécie está prestes a se tornar realidade.
Tyler Curtis

SE VOCÊ VIVE EM CERTAS PARTES DO MUNDO, PODE PARECER QUE UMA SOCIEDADE SEM DINHEIRO EM ESPÉCIE ESTÁ PRESTES A SE TORNAR REALIDADE.
O panorama global verdadeiro, no entanto, é muito mais complexo. Existem diversos mercados altamente desenvolvidos que ainda dependem fortemente do dinheiro em espécie, como Japão, Alemanha, Espanha, entre outros. Mais interessante ainda é que, em muitos países que mais avançaram na direção dos pagamentos digitais, estamos observando uma resistência significativa. Governos, movimentos civis e defensores legais estão se mobilizando para preservar o dinheiro físico como uma opção de pagamento igualmente válida.
Por que isso está acontecendo?
Vamos analisar mais de perto como e por que essa resistência está surgindo ao redor do mundo.
1. Reversão Nórdica: Suécia e Noruega Reavaliam o Dinheiro em Espécie
Antes vistas como modelos do futuro sem dinheiro físico, Suécia e Noruega agora estão incentivando os cidadãos a manterem dinheiro em espécie. Na Suécia, apenas cerca de 10% das transações atualmente são feitas com dinheiro, e as agências bancárias físicas praticamente deixaram de lidar com cédulas.
No entanto, em outubro de 2024, o Ministério da Defesa da Suécia enviou a todas as residências uma cartilha intitulada "Se a crise ou a guerra vier", recomendando que as pessoas guardem dinheiro suficiente para pelo menos uma semana, em diferentes valores. O motivo: ataques cibernéticos ou falhas na infraestrutura podem tornar os pagamentos digitais inutilizáveis em tempos de guerra ou emergência.
De forma semelhante, o governo da Noruega aprovou uma legislação exigindo que os comerciantes aceitem dinheiro em espécie, sob pena de multa. A medida surgiu diante da crescente preocupação com cerca de 600 mil cidadãos que não têm acesso a sistemas de pagamento digital. Como afirmou a ex-ministra da Justiça Emilie Mehl: "Se ninguém pagar com dinheiro e ninguém aceitar dinheiro, ele deixará de ser uma solução real em situações de emergência."
2. Austrália: Uma Mobilização dos Cidadãos e Ações Governamentais
A Austrália está passando por uma reação significativa. A campanha Cash Welcome reuniu mais de 200 mil assinaturas, exigindo a proteção do acesso ao dinheiro em espécie e a prevenção do fechamento de agências bancárias em áreas regionais. Em resposta, o governo federal declarou uma moratória sobre o fechamento de bancos nessas regiões até julho de 2027 e prometeu financiamento para apoiar agências dos correios que prestam serviços com dinheiro físico.
Um caso notável envolve o estudante Oliver Griffiths, que entrou com uma ação judicial após ser multado por tentar pagar em dinheiro em um estacionamento que havia adotado exclusivamente pagamentos digitais. Ele está chamando atenção para o fato de que cerca de 1,5 milhão de australianos ainda dependem do dinheiro em espécie, enquanto até um em cada quatro estabelecimentos comerciais se recusa a aceitá-lo. O governo anunciou que implementará um “mandato do dinheiro” no início de 2026, exigindo que empresas essenciais — como farmácias, postos de combustíveis, consultórios médicos e supermercados — aceitem pagamentos em dinheiro.
3. Irlanda: Legislação para Manter o Acesso ao Dinheiro em Espécie
A Irlanda está avançando com um projeto de lei chamado Access to Cash Bill, que exige a manutenção da disponibilidade de caixas eletrônicos e garante que o dinheiro em espécie continue acessível para grupos vulneráveis e pequenas empresas. Ministros do governo têm destacado o valor do dinheiro físico em termos de privacidade, autonomia e inclusão econômica, especialmente para pequenas e médias empresas (PMEs) e comunidades rurais.
Após a publicação do projeto no ano passado, o Ministro das Finanças, Jack Chambers, declarou: "O dinheiro é importante para os consumidores de todas as esferas da vida, pois é uma forma de pagamento privada, segura e instantânea. Para muitos, é uma ferramenta de controle financeiro, e permite que os indivíduos mantenham sua independência econômica. Também é essencial para a receita e as despesas diárias de muitas das nossas pequenas e médias empresas (PMEs)."
4. Estados Unidos: Disputas Legais sobre o Direito de Pagamento em Dinheiro
Nos Estados Unidos, alguns estados e cidades já proíbem que estabelecimentos comerciais recusem pagamentos em dinheiro — Massachusetts, Nova Jersey, Filadélfia, San Francisco, Rhode Island, Nova York (cidade) e Washington, D.C. — todos aprovaram leis que protegem os consumidores que utilizam dinheiro físico.
Em nível federal, uma ação judicial foi movida no início de 2024 contra o Serviço Nacional de Parques, por se recusar a aceitar dinheiro em diversos parques e monumentos. O processo argumenta que essa prática viola o status do dinheiro como moeda de curso legal e exclui milhões de famílias que não possuem conta bancária ou cartão (estimadas em cerca de 6 milhões de lares).
5. Reino Unido: Proteções Locais e Sentimento Público
Embora os pagamentos digitais predominem nas cidades e entre os consumidores mais jovens no Reino Unido, a transição para uma sociedade totalmente sem dinheiro físico tem sido recebida com ceticismo — especialmente em áreas rurais e entre faixas etárias mais avançadas. Segundo o Banco da Inglaterra, mais de 5 milhões de adultos ainda dependem do uso diário de dinheiro em espécie.
Em 2023, o governo britânico aprovou a Financial Services and Markets Act, que impôs à Autoridade de Conduta Financeira (FCA) o dever legal de garantir o acesso ao dinheiro em todo o país. A medida foi tomada após o fechamento generalizado de agências bancárias e caixas eletrônicos, que gerou preocupações sobre o risco de exclusão de pessoas vulneráveis. Os comerciantes também são impactados: enquanto algumas redes de lojas optam por aceitar apenas pagamentos digitais, muitos pequenos negócios ainda preferem o dinheiro físico para evitar as taxas de transação associadas aos cartões.
Diversas cidades e centros comerciais continuam exibindo placas com a mensagem “aceitamos dinheiro”, em resposta à demanda local. Campanhas públicas, como o compromisso Which? Cash Friendly Pledge, têm reforçado a importância da liberdade de escolha na forma de pagamento — especialmente em tempos de crise econômica, quando o uso de dinheiro físico pode ajudar as famílias a controlar melhor seus gastos.
O Debate: Prós e Contras dos Sistemas Sem Dinheiro e Baseados em Dinheiro
Os defensores dos sistemas sem dinheiro destacam diversas vantagens: eficiência, conveniência, redução de fraudes e simplificação da tributação. Para os consumidores, carteiras digitais e cartões por aproximação oferecem praticidade, enquanto os pagamentos digitais geram dados valiosos para varejistas, governos e instituições financeiras. Estrategistas de bancos centrais e futuristas como Brett King argumentam que os pagamentos digitais representam a próxima fase inevitável da evolução econômica.
No entanto, até mesmo países líderes em economias sem dinheiro — como Suécia e Reino Unido — estão começando a adotar medidas para proteger o uso do dinheiro físico, visando inclusão e resiliência. Isso porque o dinheiro oferece um conjunto distinto de benefícios que os pagamentos digitais muitas vezes não conseguem replicar. Por exemplo, pagamentos em dinheiro são imediatos e não geram taxas de processamento — um fator crucial para pequenos comerciantes que operam com margens apertadas e podem acabar pagando vários por cento de cada venda em taxas. Diferente dos sistemas digitais, que exigem acesso à internet ou uso de smartphones, o dinheiro é universalmente acessível e independe de qualquer rede. Ele também garante privacidade financeira e ajuda pessoas, especialmente aquelas com orçamento limitado, a controlar melhor seus gastos. Além disso, com o auxílio de soluções automatizadas para o manuseio de dinheiro, empresas e clientes podem obter mais agilidade, eficiência, redução de erros e detecção de falsificações.
As transações em dinheiro também são imunes a ameaças cibernéticas. Em casos de quedas de energia, falhas técnicas ou ataques digitais, o dinheiro permanece como um meio de troca resiliente e confiável. Esses fatores têm impulsionado os apelos para que o dinheiro continue sendo uma opção de pagamento paralela, em vez de ser gradualmente abandonado.
Mantendo o Equilíbrio na Liberdade de Pagamento
A transição para os pagamentos digitais traz vantagens inegáveis em termos de agilidade, conveniência e prevenção de fraudes. No entanto, em diversas sociedades, uma mensagem comum está ganhando força: o dinheiro não deve desaparecer sem que haja escolha.
Governos da Suécia, Noruega, Austrália, Irlanda, Reino Unido e de algumas regiões dos Estados Unidos estão adotando medidas legais ou políticas para preservar o acesso ao dinheiro físico. Movimentos populares e ações judiciais mantêm o tema em evidência. Questões centrais — como exclusão financeira, perda de privacidade, riscos cibernéticos e equidade social — têm se mostrado forças poderosas contra uma realidade totalmente digital.
Seja para administrar o orçamento doméstico, proteger a privacidade ou estar preparado para emergências, o dinheiro continua sendo um componente essencial da vida econômica. Seus defensores estão transmitindo uma mensagem clara: mesmo em um mundo digital, a liberdade de escolha na forma de pagamento é fundamental.
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